Você já escutou ou leu essa frase varias vezes, somos o que comemos. Será mesmo? Esta frase afirma que a única fonte de elementos externos que precisamos retirar do ambiente e literalmente incorporar ao nosso organismo são os alimentos.
Não concordo. J.C. mudou-se com a família para uma casa em frente a minha, e logo começamos a nos falar. J.C. era um macrobiótico perfeito. Fazia umas comidas deliciosas baseadas nas regras de George Oshawa. Certa noite fui acordado por sua mulher para ir ver J.C. Ele estava deitado de bruços na cama contorcendo-se de dores no abdômen. Virei-o, examinei-o e o diagnóstico foi gastrite. Como podia estar o estomago inflamado com tão equilibrada alimentação?
Kleber Fontolan, um conhecido quiropraxista de Porto Alegre, disse-me que, atendendo vegans, ele percebeu que, com sua disciplina rígida, se mostravam muito menos vitais que outros seus pacientes que se alimentavam de modo mais eclético, que se divertiam mais em encontros e jantares.
Decerto podemos dizer que somos o que comemos. Porem, nos alimentamos muito com o que pensamos, com as emoções que sentimos e que modificam a bioquímica do nosso sangue. Também nos alimentamos de ar, e a qualidade do ar que respiramos tem grande influencia em nosso ser. Não sou a qualidade do ar como também o modo como respiramos influi decisivamente em nossas vidas. Nos alimentamos também do padrão de harmonia ou desarmonia com que vivemos em relação a nós mesmos e em relação ao mundo que nos cerca. Alimentamos-nos de prana quando praticamos exercícios respiratórios e exercícios para ativar os chacras. Alimentamos-nos também da graça divina, quando nosso nível de harmonia com as leis cósmicas nos permite acessar padrões vibratórios mais sutis que o habitualmente encontrado na superfície do planeta. Alimentamos-nos quando nos expomos de modo correto a luz solar. Alimentamos-nos, e muito, da energia kundalini quando sabemos como direcionar a nossa energia sexual.
Quanto à comida em si, alimentos dos reinos mineral, vegetal e animal, o que se pode dizer é que precisamos mudar a nossa mentalidade de cowboy americano para a mentalidade de astronauta. O cowboy dos filmes western, apos matarem todos os bandidos de uma cidade sempre tinham outra cidade para ir, mais a oeste. O astronauta, por sua vez, sabe que qualquer botão que atacionar, ou deixar de acionar, terá repercussão em todo o sistema. E, na situação atual em que nos encontramos, priorizar a alimentação vegetariana é a solução do astronauta. Criar bois, ovelhas, cabras para alimento, requer áreas extensas de terras férteis para pasto, requer extensas áreas de terra para cultivar em monocultura grãos que vão alimentar esses animais, alem dos porcos, aves e peixes criados em cativeiro. Vastas áreas que poderiam estar produzindo alimentos vegetais em abundância. Vastas áreas que exercem pressão intensa sobre os biomas naturais, o cerrado, a floresta. Alem disto temos a crueldade com que muitos desses animais são criados e a dor e o sofrimento da matança. Se tivermos ovos e laticínios como fontes viáveis de proteínas animais, não precisamos comer a carne desses nossos companheiros de jornada terrestre. E se vamos falar em tradição, em sabor, em prazer gustativo, em requinte, tudo isso esta ultrapassado, porque não podemos mais pensar em nos como indivíduos apenas, temos que pensar em nós como coletividade, como humanidade terrestre que habita um planeta que é sua nave capaz de manter sua vida biológica, cercada por um universo hostil que daria cabo de sua vida em menos de um minuto, basta ver como são as roupas dos astronautas em operação fora de suas naves quando estão em orbita.
E lembrando que comer é antes de tudo, antes de qualquer filosofia ou modo de se obter prazer físico, um meio de fornecer ao corpo biológico substancias químicas necessárias a manutenção da vida.
Assim defendo a tese de que somos o que somos nos empanturrando de carne ou de ensopado de abobora. Ser vegetariano ou carnívoro não nos faz intrinsecamente melhores. Só que a cada dia a nossa responsabilidade como nossos irmãos e irmãs seres humanos aumenta. E o luxo de comer carne não é mais aceitável nos tempos de hoje. Cada gesto nosso tem cada vez mais significado, embora queiram nos fazer crer exatamente o contrario. Que tal cada um fazer a sua parte e todos sobrevivermos?
Dr Eduardo Navarro
CREMERS 30558
drmednat@yahoo.com.br
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